MAIS DO QUE UM RÉQUIEM!

Em 19 de dezembro de 2004, Papai morreu.
Morreu? Não, isso é muito forte e duro de se dizer, principalmente quando se fala de Papai, tão presente em nossas vidas e a morte seria um fim muito brusco.
Preferiria dizer, então: Encantou-se! Como, se encantado ele sempre o foi?
Ah, ele tomou para si os versos de um samba-enredo de carnavais passados:

Vou-me embora, vou-me embora,
Eu aqui volto mais não,
Vou morar no
infinito
E virar constelação.


Foi viajar, para além do infinito, mas não estará sozinho lá: reencontrou seus pais; os irmãos, que antes partiram; grandes amigos; e, dessa constelação fica a nos guiar, tal qual a Estrela de Belém guiou os Reis Magos até o Menino Jesus.
Aliás, há algo em comum entre eles, pois Papai também nasceu em Nazaré, só que a “da Mata”, aqui de Pernambuco; igualmente em dezembro, apenas com uma diferença: enquanto o Menino Jesus no dia 25, ele no ano de (19)25.
Vai ver foi por isso que estudou em Seminário, e por pouco não seguia a carreira eclesiástica, a qual viu não ser a sua missão na Terra, mas sim o sacerdócio do magistério, levando o ensinamento aos demais.
Mas, voltando ao assunto, isso aqui tão-somente seria uma pequena nota introdutória, uma apresentação, da sua passagem entre nós, para tornar público um pouco de sua vida, principalmente agora que ela é eterna.
Dizem que falar dos mortos é tarefa fácil já que, depois de morto, todo mundo é santo.
Com Papai, não! Tal ditado não se aplica a ele.
Não é apenas porque se encantou que nada pesa sobre ele, mas a sua própria vida demonstra que abriu um caminho que todos podem, e devem, seguir. Por isso é fácil falar sobre ele.
Basta ver as homenagens que recebeu, enquanto entre nós se encontrava e também depois.
E esta a razão deste texto, um abre-alas para um resumido histórico de sua vida e reunir textos sobre ele. Enfim, apesar de não o necessitar, apresentá-lo.
Papai era uma pessoa realmente plural. Não só era professor de línguas, as mais inesperadas, inclusive, tanto que inúmeras vezes foi “convidado” a participar de programas de televisão como parte de gincanas estudantis.
Quem iria saber que também haveria de ter se apresentado na televisão para cantar?
Seus dotes artísticos também enveredam para a poesia, apesar de, como professor, quando possível, sempre haver procurado se esquivar do ensino das literaturas.
Mas, tem as artes plásticas. Não deixou quadros ou esculturas, contudo, apesar de não alcançar as proezas de Geppeto, construía alguns dos nossos brinquedos. Acho que dentro dele havia um pouco daquilo que existia em Leonardo da Vinci (ou seria do Prof. Pardal?), pois adorava inventar coisas para facilitar o dia-a-dia. E era cada engenhoca!
Serviço de pedreiro, pintor, encanador e eletricista também era com ele. Aliás, muito engenheiro poderia ter tido aulas práticas com ele, que chegou a ensinar a um pedreiro como assentar – da forma correta – as lajes do piso do oitão da casa onde morávamos.
Agora, o difícil mesmo era andar com ele na rua, principalmente quando se tinha pressa. A cada instante alguém o parava, inicialmente para um simples gesto de cumprimento, mas, ao final, uma longa conversa.
Apesar de detestar fazer discursos, não conseguia falar pouco. Acho que era para compensar.
Engraçado, não gostava de falar em público, fazendo discursos, mas como amava dar aulas.
E aqui o sacerdócio que seguiu: ser professor! De várias gerações.
Dizia ele que já era bisavô, pelo menos das alunas do Colégio das Damas, já que em muitas turmas havia alunas cujas mães e avós também tinham sido suas alunas naquele colégio. Pudera, passou quase trinta anos ensinando lá, desde 1º de março de 1953 até, quando se aposentou, em maio de 1984.
Oportuno esclarecer que apenas após casar-se é que poderia ensinar naquele colégio, antes exclusivamente destinado ao alunado feminino. Solteiro ali, só o capelão!
Como se vê, este é o início de uma história sem fim, cujos capítulos virão, aos poucos, se juntando a essa pequena introdução.

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