Curriculum Vitae

Nasceu na então denominada Nazareth de Pernambuco, mais tarde Nazaré-da-Mata, cidade da Zona da Mata do Estado de Pernambuco, no dia 06 de dezembro de 1925.
Filho de José Spinelli Lapenda e Anna Calábria Lapenda, era o quinto de sete irmãos: Feliciano (Padre Lapendinha), José e Maria da Conceição (Ceça), já falecidos, e Pascoal (Lito), Francisco de Assis e Maria Ângela.
Após seus estudos menores em Nazaré da Mata, foi para o Rio de Janeiro, aos 11 anos de idade, para prosseguir seus estudos no Seminário Arquidiocesano de São José, no qual era Reitor o seu tio, o Mons. Virgílio Lapenda. Ali, além de seus estudos regulares em Humanidades (1937/43), fez o Curso de Filosofia (1944/46), sendo um dos escolhidos para cursar em Roma a Pontificia Universitas Gregoriana (Facultas Theologica), onde faria o Curso de Teologia no Pontificii Colegii Pii Brasiliensis, ali ingressando em novembro de 1946.Ainda no Seminário, no Rio de Janeiro, fez especialização em Língua Grega, em Grego-Bíblico e Língua Hebraica. Não chegou a terminar o Curso de Teologia, após o qual se ordenaria, retornando ao Brasil em março de 1948. Inicialmente ao Rio de Janeiro e, depois, forte a saudade de sua família, ao Recife.
Seu sonho era a advocacia, mas os anos de seminário o conduziriam, não por sua vontade, mas pela legislação educacional vigente, à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Manoel da Nóbrega”, da Universidade Católica de Pernambuco, onde se graduou no bacharelado (1949/51) e na licenciatura (1952) em Letras Neo-Latinas. Tinha início sua vida de magistério e, como professor da recém-criada Faculdade de Filosofia de Pernambuco, que futuramente integraria a Universidade do Recife, hoje Universidade Federal de Pernambuco, veio a conhecer a sua esposa, Maria Clementina Barros Lapenda, com quem se casou em 20 de dezembro de 1952, passando juntos 52 anos, completados no dia do seu sepultamento. Dessa união, três filhos: Ana Lúcia, Marcos José e Marcelo.Conseguiu, ainda, realizar o seu antigo sonho, graduando-se em Direito; mas pouco advogou, tão-somente durante dois anos. O “vício” do magistério já o havia tomado.
Aqui um pequeno parêntese.

À época, havia apenas a Faculdade de Direito do Recife, e por lá pretendia se graduar. Contudo, por ser professor da mesma Universidade (Faculdade de Filosofia) foi-lhe negada a matrícula.O então Reitor não aceitava que um professor fosse, ao mesmo tempo, aluno da Universidade. E não houve quem o fizesse voltar atrás.Com isso, foi adiando seu sonho, à espera de superar o empecilho ou que outra instituição superior oferecesse o Curso de Direito, o que só veio a ocorrer mais tarde, através da Universidade Católica de Pernambuco.Mas, como sua jornada diária já era grande, adiou mais um pouco o sonho, só vindo a iniciar o curso em 1968, concluindo-o em 1972.


Em 1966, ganhou uma bolsa para, no Uruguai, fazer o Curso de Tipologia Lingüística, no Instituto Latino-Americano de Lingüística.

Como sempre foi muito ligado à família, e com a longa duração do curso (três meses), solicitou que o valor destinado à passagem aérea, que contemplaria apenas ele, fosse-lhe dado em espécie.Assim, custeou as despesas da viagem de carro, em uma Rural Willys, pela ainda em construção malha rodoviária, levando toda a sua família junto.Além da aventura em si, atravessando rio onde não existia ainda a ponte, esperando a boiada passar, descobrindo cidades que sua própria população nem sabia estar no mapa; uma verdadeira aula de geografia, história e culturas regionais, in loco, que ele nunca se furtou a nos ensinar.

Doutorou-se em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco, obtendo o título de Docente-Livre em Lingüística, mediante aprovação em concurso de títulos e provas, com a defesa de sua tese Aspectos Fonéticos do Falar Nordestino (1977).

Aliás, além do estudo da linguagem humana, dedicava-se, como era de se esperar, ao estudo-ensino das mais diversas línguas, cujo pendor remonta a sua infância.
Ainda criança, em Nazaré da Mata, morava perto de uma paraguaia que sabia o guarani e o foi ensinando os sons daquela língua. Depois, já no seminário, vieram o latim, o grego, o hebraico...
Em Roma, em contato com colegas das mais diversas nacionalidades, e sua enorme facilidade de aprender línguas, não se tornou difícil o aprendizado de outras línguas. Daí porque não é de estranhar sua fluência, muitas vezes até confundido com nativos, em inglês, espanhol, italiano (teve que provar, pelo passaporte, ser estrangeiro em uma das suas viagens à Itália) e francês; sem contar o aramaico e o sânscrito. E tantas outras línguas que não tinha o vocabulário, a seu entender, suficiente, mas era capaz de ler e até escrever.
Não era de se estranhar, então, o ensino, além do portugês, de línguas (latim, espanhol, francês, inglês) em diversos colégios do Recife, tais como o Colégio Israelita de Pernambuco, Colégio Leão XIII, Colégio Salesiano do Sagrado Coração, Colégio das Damas da Instrução Cristã, Instituto de Educação de Pernambuco e Colégio Santa Maria.Ainda no denominado ensino médio, o Ginásio Pernambucano (Colégio Estadual de Pernambuco), para o qual, após aprovação em concurso de títulos e provas (defendendo a tese Tendência do Latim ao Analitismo), foi nomeado para a Cátedra de Latim, em 1957, disciplina que lecionou até a sua retirada da grade curricular na década de 1970. Igualmente foi professor de português e inglês, bem como Vice-Diretor (1956/61), Diretor (1961), Membro da Congregação e do Conselho Técnico-Administrativo (1968/74), deixando seus quadros tão-somente em 1983, ao se aposentar.
No ensino superior, foi fundador do Curso de Letras da Faculdade de Filosofia de Pernambuco da Universidade do Recife (atual Departamento de Letras da Universidade Federal de Pernambuco) e era Professor Titular de Língua e Literatura Grega. Ali ministrou aula nas seguintes disciplinas: língua e literatura italiana (para a qual foi nomeado Professor Assistente - 1950/55), língua e literatura latina, língua e literatura grega, língua portuguesa (no Ciclo Geral do Curso de Medicina – 1973/76), bem como indo-europeu (Cursos Extraordinários promovidos pelo Diretório Acadêmico da então denominada Faculdade de Filosofia de Pernambuco – 1954/55), métrica greco-latina (Curso de Especialização em Teoria da Literatura – 1973), fonética geral e análise fonológica (Curso de Mestrado em Letras) e filologia românica histórica (Curso de Doutorado em Letras). Ali foi Chefe do Departamento de Letras da Universidade Federal de Pernambuco (1976/78), sendo reeleito por unanimidade (1978/1980), e Vice-Reitor da Universidade Federal de Pernambuco (1980/1984), havendo assumido o exercício do cargo de Reitor, em março de 1983, com o afastamento do titular por motivo de doença e posterior falecimento, até a posse no novo Reitor, em novembro do mesmo ano.Na Faculdade de Filosofia do Recife (FAFIRE), no seu Curso de Letras (1972/80), lecionou língua latina, língua portuguesa, filologia românica, língua e literatura italiana e língua inglesa e, no seu Curso de Geografia, língua tupi.
Na Universidade Católica de Pernambuco lecionou língua e literatura italiana (1953/58).Finalmente, lecionou métrica greco-latina no Seminário Arquidiocesano de Olinda e Recife (1958/60).
No tocante à Universidade, uma pequena pausa para um longo comentário.
Sempre avesso aos altos cargos, preferindo sempre a sala de aula e a pesquisa, eis que chega à Reitoria da Universidade Federal de Pernambuco. Por nomeação, depois de eleito para compor lista sêxtupla – para constar, diziam – o cargo de Vice-Reitor e, pela fatalidade do falecimento de Geraldo Lafayette, uma interinidade de quase um ano à frente da Reitoria.
Mas vejamos. Entrara na lista, como também ocorrera na eleição para Vice-Reitor em 1971, tão-somente para a completar. Era o sexto e último nome, só havendo aceitado por insistência do então Reitor, seu amigo de longas datas, Geraldo Lafayette.
Após uma longa demora de quase seis meses, recebe-se a notícia de haver, finalmente, saído a nomeação de um daqueles já esperados, chegando-se inclusive a ir cumprimentá-lo.
Isso em uma sexta-feira, final da tarde.
O Recife receberia, na segunda-feira seguinte (7 de julho de 1980) a visita de S.S. o Papa João Paulo II e, por tal razão, pode-se dizer que a cidade parou – não havendo expediente na Universidade –, deslocando-se a população para os caminhos por onde passaria o “papamóvel”.
Naquele dia, conspirava-se em Brasília e era levado o seu nome para sanção pelo Presidente da República.
Ali, nem no dia seguinte, não houve qualquer comunicação oficial. Primeiro em vista do “feriado”, e depois porque passaria ele todo o dia, inclusive almoçando, na Universidade (vale lembrar que esposa e filha eram professoras, outro filho passava o dia inteiro também em seu local de trabalho e eu, estudante da mesma Universidade). Ou seja, tentava-se desde o dia anterior estabelecer contato com ele e nada.
Disse-nos ele que, após presenciar a passagem do Papa (e é bom lembrar que, como seminarista, estudando em Roma, tivera a oportunidade de ver o então Papa, Pio XII, bem mais de perto), sentira uma paz, algo que não poderia explicar. Quem sabe por haverem sido contemporâneos em Roma?
À noite, chega o telefonema. Do outro lado alguém que se dizia do MEC, comunicando a sua nomeação.
– Brincadeira mais sem graça! Desde a sexta-feira chegara a notícia da nomeação, e outro era o nomeado, para a sua alegria e alívio.
Diria ele.
Mas, brincadeira tem hora, e os desígnios de Deus são certeiros. Vem ao telefone um ex-aluno seu, revelando-se pela sua “alcunha” dos tempos do Colégio Estadual de Pernambuco: era a mais pura verdade!
E o conspirador tinha nome: Heráclito Fortes, hoje Senador pelo
Piauí
.
Logo após, a confirmação pela voz do então Reitor.
E mais, no “Jornal Universitário”, a notícia de sua posse ficou logo abaixo de uma foto do Papa, com os braços estendidos em sua direção, em um gesto de acolhimento!

Além das teses defendidas nos concursos para Cátedra – O Condicional no Sistema Verbal Latino (Cátedra de Latim do Instituto de Educação de Pernambuco, 1952) e Tendência do Latim ao Analitismo (Cátedra de Latim do Colégio Estadual de Pernambuco, 1957) – e para a obtenção do grau de Doutor em Letras (Aspectos Fonéticos do Falar Nordestino, 1977), realizou pesquisa de campo, que empreendera desde 1953, descrevendo a estrutura e a norma da gramática da língua falada pelos índios fulniôs, de Águas Belas (Yati-lyá, na língua fulniô), sertão de Pernambuco, publicando ao final o trabalho Estrutura da Língua Iatê (Ed. Universitária-UFPe, 1968), para o qual despendera quase 10 anos de sua vida, sem que existisse qualquer estudo anterior sobre aquela língua para lhe servir de escopo e contando apenas com o auxílio de parcos e rudimentares equipamentos, o que não o impediu de concluir um trabalho pioneiro e de reconhecida qualidade no meio acadêmico nacional e internacional.Interessante narrar que recebia periodicamente em sua casa a visita dos índios, que muitas vezes o acompanhavam no seu dia-a-dia para um melhor domínio daquela língua.Acredito que daí surgiu sua paixão por acompanhar as evoluções dos “caboclinhos” nos carnavais.Mas não ficou só nessas pesquisas. Ele se dedicou, durante muitos anos, ao estudo do tupi-guarani, que muita gente pensa que é uma única língua, quando na realidade, não se cansava de explicar, trata-se de um grupo lingüístico, formando duas línguas diferentes: o tupi e o guarani, parecidas, entre si, como o espanhol e o português.Suas últimas pesquisas estavam relacionadas às línguas indígenas, sendo as mais recentes: Seis Cartas Tupis do Brasil Holandês, Os Índios Xucurus: resquícios de uma língua, Partículas do Iatê, Os Tupis-Guaranis e os Índios em Pernambuco e Arte da Língua Kariri. Acrescentando-se, ainda, O Timbre das Vogais Médias no Falar Nordestino e O Latim Aplicado à Linguagem Botânica.Outros trabalhos foram publicados: Nomes Compostos da Língua Grega (Faculdade de Filosofia de Pernambuco, 1954) e Vocabulário e Gramática da Língua Iatê, em apêndice ao livro Etnologia Brasileira: fulniô, os últimos tapuias, do Prof. Estêvão Pinto, publicado dentro da coleção “Brasiliana” (vol. 285) da Editora Nacional (1956), e artigos em revistas e jornais: História da Literatura Latina – apreciação da obra do Cônego Pedrosa (1948), Português Comercial – apreciação sobre o trabalho do Prof. Adauto Pontes (1952), Palestra e Ginásio (1953), Morfologia Histórica do Italiano (1954), O Indo-europeu (1954), Os Dialetos da Itália (1956), Etimologia da Palavra “Tupã” (1957), O Substantivo Italiano (1959), O Dialeto Xucuru (1962), Perfil da Língua Iatê (1965), Processos Morfológicos e Mudanças Fonéticas (1977), Meios de Produção e Transmissão dos Sons da Fala na Linguagem Humana (1980), Universidade é Reunião de Valores (1980), Maracutais?!. (1990), Quebra-cabeças (1990) e Pseudo-etimologias (1990).
E o fruto de toda essa produção foi notado, basta ver sua obra citada em vários outros trabalhos.
Igualmente nunca se furtou ao apoio a colegas e amigos na tradução de textos outros para o latim, o grego, o italiano, bem como dessas e outras línguas para o português.Em sua vida profissional, como visto, não esteve parado no tempo, antes um inovador, participando dos primórdios da Associação Brasileira de Lingüística (ABRALIN), na qual chegou a integrar o seu primeiro Conselho Diretor, e fomentando outras atividades de âmbito nacional e local.De se destacar sua participação em inúmeros congressos e seminários, nos quais, entre outras, proferiu as conferências O Papel do Aparelho Fonador na Emissão de Consoantes (1959), A Importância do Estudo da Entonação (1962), A Experiência na Pesquisa de Campo de uma Língua (1968). E ainda acharia um tempinho, apesar dos encargos administrativos, para ministrar a aula inaugural do Curso de Mestrado em Anatomia Patológica da UFPe (1982), dissertando sobre o tema Palavras Gregas na Nomenclatura Médica.

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