SARAU PLURAL 37 

TUPI OR NOT TUPI

Theodoro de Bry, 1592ZOOM
Antropofagia
  
ARTE PLURAL GALERIA
Rua da Moeda, 140 
Bairro do Recife 
Apresenta
27 de Agosto de 2013 às 19:00 
  Sarau Plural 37    -   TUPI OR NOT TUPI
com Homero Fonseca, Marco Polo e Geraldo Maia.
 CONVIDADO ESPECIAL:
 ROBERTO HARROP, sociólogo, professor, pesquisador da língua e cultura tupi.
 Textos e poemas: Osvald de Andrade, Mário de Andrade, Gonçalves Dias, Jaime Llulu Manchineri, Raul Bopp, Kent Nerburn e Geraldo Lapenda.    
 Trilha sonora: Augusto Calheiros/René Bittencourt, Caetano Veloso, Djavan, Gilberto Gil, Beto Guedes e Villa-Lobos.
Pena que a divulgação do evento não nos chegou, mas fica aqui marcada mais essa faceta
Xe remirekó
Geraldo Lapenda (24 de dezembro de 1952)

Aîkuab kuñataĩ:
iporang itybytaba,
ixybá, sobá, i'aba,
inambí, sesá, itĩ.
Iporang ijurú, sãîa,
sendybá, sembé-piranga
(osekýîbae xe anga
xe resá moesã-moesãîa).
Iporang îatukupé,
ijyké, sendybangá,
ijybá, ipó, îatûá,
îatiyba, ikama bé.
Iporang sygé, sumby,
îanagûyra, setymã,
ipytá, sendypyã,
iku'á, i'uba, ipy.
Iporangatú îakanga,
iporangatú seté,
pakatú seté sosé
iporangaté i'anga.
A'é xe remirekó;
Clementina sé-poranga;
pá i'anga opá xe'anga,
xe rekó opá sekó.
— x —

Clementín, oró aûsub
moraûsubeté pupé;
xe raûsub abé jepé;
tîaîoang-andú-andub.

Conheço uma menina:
são belos suas sobrancelhas,
sua testa, seu rosto, seus cabelos,
suas orelhas, seus olhos, seu nariz.

São belos sua boca, seus dentes,
seu queixo, seus lábios vermelhos
(que atraem minha alma
ficando a alegrar meus olhos).

São belos suas costas,
seu lado, seus cotovelos,
seus braços, suas mãos, sua nuca,
seus ombros, seus seios também.

São belos seu ventre, seus quadris,
suas nádegas, suas pernas,
seus calcanhares, seus joelhos,
sua cintura, suas coxas, seus pés.
É bem bela sua cabeça,
é bem belo seu corpo,
acima de todo seu corpo
é belíssima sua alma.

Essa é minha esposa;
Clementina é seu belo nome;
toda sua alma é toda minha alma,
todo meu proceder é seu proceder.
— x —
Clementina, eu te amo
com amor verdadeiro;
ama-me também tu;
que fiquemos a sentir a alma um do outro.


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Biblioteca Digital Curt Nimuendajú

livros e artigos sobre línguas sul-americanas

Coleção Geraldo Lapenda
lapenda.JPG
Geraldo Lapenda entrevistando o Fulniô Lourenço (década de 1950). Foto: acervo familiar (cortesia de Marcelo Lapenda)

Sobre a coleção:

Filólogo, Geraldo Lapenda (1925-2004) foi um pioneiro no estudo científico das línguas indígenas do nordeste brasileiro, sendo o autor de Estrutura da língua Iatê (1968, 2005), ainda hoje obra de referência obrigatória sobre esta língua. A Coleção Geraldo Lapenda da Biblioteca Digital Curt Nimuendaju inclui artigos raros e de difícil acesso, digitalizados a partir de itens da biblioteca pessoal do autor.
Além de trabalhos sobre línguas mais conhecidas (Yatê e Tupinambá), a Coleção inclui o artigo 'O dialeto Xucuru' (possivelmente, a mais importante fonte publicada sobre esta língua extinta), em que Lapenda sistematiza e analisa dados coletados por dois funcionários do SPI (e conferidos posteriormente pelo próprio Lapenda). O artigo ilustra bem a acuidade analítica do autor; apesar das limitações dos dados (a língua então já não contava com falantes fluentes), Lapenda oferece uma análise bastante perspicaz, lidando com as diferentes influências lexicais detectáveis (principalmente Tupinambá e Yatê), o uso cotidiano do que restava da língua (caracterizado pelo uso de vocábulos indígenas com a sintaxe do português), etc. O artigo inclui anotações manuscritas do autor, esclarecendo aspectos da descrição e das circunstâncias da coleta dos dados. Trata-se, enfim, de contribuição essencial para a compreensão da complexa situação etnográfica em que se inserem os Xukurú.

LAPENDA, Geraldo Calábria. 1953. Etimologia da palavra Tupã. Boletim Universitário (Diretório Acadêmico da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Pernambuco), 15 de junho de 1953, p. 3-7. Recife. 
http://biblio.etnolinguistica.org/lapenda-1953-etimologia

LAPENDA, Geraldo Calábria. 1962. O dialecto Xucuru. Doxa (Revista Oficial do Departamento de Cultura do Diretório Acadêmico da Faculdade de Filosofia de Pernambuco da Universidade do Recife), ano X, n. 10, p. 11-23. 

LAPENDA, Geraldo Calábria. 1965. Perfil da lingua yathê. Arquivos 21/47, p. 54-72. Recife: Secretaria de Educação e Cultura (Prefeitura Municipal do Recife)/Imprensa Universitária.

PINTO, Estêvão. 1955. Estórias e Lendas Indígenas. Secção E (História e Geografia), 15. Recife: Faculdade de Filosofia de Pernambuco, Universidade do Recife. [A tradução literal dos textos foi feita com a colaboração do linguista Geraldo Lapenda]

JOSÉ LOURENÇO DE LIMA, "Professor Emérito" da Universidade Federal de Pernambuco

APRESENTAÇÃO

     Mais do que merecida, a concessão do título de Professor Emérito da UFPE ao mestre José Lourenço de Lima foi antes o pagamento de uma dívida, foi o reconhecimento, pela comunidade universitária, de tudo quanto ele doou a todos na grande parte de sua vida dedicada ao magistério. Através desse título, Lourenço retorna ao seio da Universidade, da qual se desligara no momento de sua aposentadoria: e quem saiu ganhando com esse retorno foi a UFPE.
     O Prof. José Lourenço, como em geral todos os egressos de Seminário (das "priscas" eras, naturalmente), enveredou-se pelo ensino da língua latina e, obviamente, da língua portuguesa, e daí partiu para a filologia românica, pois dispunha - e ainda dispõe - de farto cabedal de conhecimento das línguas francesa, espanhola e italiana.
     A cultura latina teve nele seu paladino; foi ele responsável pela sua transmissão, não a uma, mas a duas ou três - e quiça quatro - gerações de jovens de nosso Estado; transmissão essa, feita através de muita verve e entusiasmo, em linguagem fácil, espontânea, rica e escorreita: ele sabe dizer-nos as coisas, e sabe como dizê-las, isto é, possui o dom da palavra em seu sentido mais expressivo.
     Tão grande continua seu amor pelo latim, que não deixa passar qualquer oportunidade sem fazer citações várias nessa língua, embora na presente arenga (sem a conotação de aranzel de que inocentemente se queixou, em aparte, seu neto Alexandre) tenha parecido preferir ao latim a língua de Bossuet. Firme e convicto, permanece fiel à língua dos Césares, hoje tão espezinhada: pertence também ele à pertinaz hoste dos que são chamados por Virgílio rari nantes in gurgite vasto.
     Na presente arenga, Lourenço traça, com o donaire de que é dotado, o perfil histórico do querido latim, em sua longa metamorfose através dos séculos, até desabrochar nas línguas neolatinas. E o mestre se lhe considera fiel mediante a fidelidade igualmente consagrada a sua continuadora: a língua portuguesa; o latim e o português são, pois, suas grã-senhoras, por quem vive apaixonado.
     O auditório, repleto, parecia extasiado, e os semblantes dos ouvintes transpareciam o interesse com que proveitosamente lhe acompanhavam as palavras cativantes. A simples arenga se transformara em uma aula magistral: um mestre discursava.
Recife, 10 de março de 1984
Prof. Geraldo Calábria Lapenda

In: NEGROMONTE, Álvaro; LIMA, José Lourenço de. José Lourenço de Lima "Professor Emérito" da Universidade Federal de Pernambuco. Coleção Espírito Universitário, v. 13. Recife: Universitária, 1984, p. 9-10.